"De maneira mais genérica, uma criatura onisciente nunca perderia seu tempo vendo um filme, uma vez que já conhece o final. Não existe cinema para Deus. E, por conseguinte, ele, que não obstante sabe tudo, não sabe o que está perdendo..."

Ollivier Pourriol, no livro Cine Filô.

Comentários da Cristina Faraon

Blá...blá... blá...

A Dama da Água

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


Proponho a você uma pequena brincadeira: finja que você é um abestado e imagine o enredo de um filme absolutamente idiota. Concentre-se. Não tenha medo porque essa viagem tem retorno.

Pronto? Imaginou? Pois saiba: isso que você bolou é uma obra de arte perto do filme A Dama na Água, do indiano M. Night Shyamalan. De que ele trata? Qual a idéia central? Vou lhe dar as dicas e você constrói o hospício:

Há uma presença estranha na piscina de um condomínio. Você deduz: filme de terror e suspense. Nada disso.

Quem está lá é uma ninfa linda que não vê mal algum em viver pelada. Aí você saca: erotismo ou romance. Outra pista falsa. O seu protetor providencia mais do que correndo uma roupa para a garota e em momento algum parece sentir algum desejo por ela. Continuemos: você nota que a tal ninfa não sabe o efeito que sua nudez pode causar nos homens. E não é só isso que ela não sabe. Na verdade é tão desinformada que a gente chega a duvidar de sua sanidade mental. Legal! Isso que dizer que vamos entrar em um drama psicológico? Não.

A garota é estranha mas não tem problemas mentais. Juro que não tem! Claro que ela só abre a boca para dizer coisas enigmáticas e não completa duas frases que se encaixem uma na outra mas isso não quer dizer nada. Já vi muitos artistas e economistas agindo da mesmo maneira.

Ah, agora você sabe: estamos frente a uma história edificante sobre o poder destruidor das drogas no cérebros? Você errou de novo.
Nesse ponto você começa a se irritar com a ninfa balbuciante e a dar toda a razão ao cara que não quer nada com ela. Ele também parece idiota, mas pelo menos conseguiu prever que teria problemas com a polícia se fizesse sexo com uma débil mental.

Tem mais: para completar existem uns seres estranhos disfarçados de gramado que estão - eles sim! - muito a fim de comer a garota. A essas alturas você já jogou a toalha e desistiu de entender o gênero do filme; é moderno demais para a sua cabeça e foge à classificações.

Confesso que assisti até o fim na esperança de que ele desse uma reviravolta e eu descobrisse de repente que o diretor é dono de uma mente brilhante. Enquanto o filme não terminasse havia a possibilidade de surgir alguma grande revelação na história que desse sentido a toda aquela tontice.

Talvez fosse um filme tão complexo que só depois, juntando coisa com coisa, eu iria sacar tudo e passar três dias festejando. Confesso que já se passaram meses e isso ainda não aconteceu...

Por fim agarrei-me à esperança de que meus amigos teriam entendido e depois explicariam tudinho a mim. Eu já estava conformada em ser a burra da história desde que aquele novelo se desenrolasse. Nada.

Tudo o que eu sabia era que aquela ninfa lombrada tinha uma missão rocambolesca entre os humanos. Veio trazer uma mensagem ou advertência - quem se importa a essas alturas? O filme termina e a gente não consegue entender por que ela foi a escolhida para essa missão, uma vez que não consegue se comunicar claramente em momento algum. Não havia ninguém mais fluente no lugar de onde ela vinha?

Não caia na tentação de locar o filme para utiliza-lo como comédia porque ele não consegue nem mesmo ser engraçado. Recomende a algum inimigo.

0 comentários:

  © Free Blogger Templates Columnus by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP