"De maneira mais genérica, uma criatura onisciente nunca perderia seu tempo vendo um filme, uma vez que já conhece o final. Não existe cinema para Deus. E, por conseguinte, ele, que não obstante sabe tudo, não sabe o que está perdendo..."

Ollivier Pourriol, no livro Cine Filô.

Comentários da Cristina Faraon

Blá...blá... blá...

FEDERAL

sábado, 27 de novembro de 2010




Chega a ser engraçado de tão ruim.  Quer dizer: ou você morre de rir ou você morre de raiva. O único que trabalhou bem foi Eduardo Dusek,  que por sinal nem ator é. Por aí você tira o resto.

Selton de Mello está irreconhecível, perdidinho da silva. Para piorar a situação ele atua o tempo todo cabisbaixo, falando rápido e “pra dentro”.  No começo senti falta das legendas para poder entender o que ele dizia mas depois deixei pra lá porque não devia ser nada importante mesmo.

Parece que foi tudo feito “nas coxas”. É um caça-níqueis para ganhar dinheiro na carona do Tropa de Elite.  Só que o que o Tropa de Elite tem de bom, Federal tem de péssimo. 

O filme é ruim em tudo: não tem roteiro, a imagem é uma bosta, o som é ruim, os atores estão em seus piores momentos, os diálogos são IDIOTAS. E não há uma história. E não há um fecho para o final.   

É muita cara de pau quererem fazer um filme a respeito da Polícia Federal sem terem ao menos feito uma pesquisa básica, tipo: quais são exatamente as atribuições da Polícia Federal? Em quê o trabalho da PF difere do trabalho da PM e da Polícia Civil? Como é o relacionamento da PF com as outras polícias? Costumam trabalhar juntos? Como funciona uma operação policial?  Como é o dia-a-dia de um Agente Federal?  Etc. No filme a Polícia Federal está irreconhecível.  

Só mesmo a falta de pesquisa explica as inúmeras cenas absurdas, tipo:

- O Delegado com um pingo de agentes empenhados em fechar bocas de fumo.  Há há há.   Desde quando a PF trabalha nisso?  E pior: torturando um bandido para ele dizer “qualquer coisa”  (me poupem!) que facilitasse o trabalho deles. Como se todo mundo não soubesse onde estão as bocas de fumo da cidade.

- A presença inexplicável de um PM livre leve e solto, dispensado pelos seus superiores para trabalhar o tempo todo colado nos  PFs.  Mais incríiiiiivel ainda:  colado com os PFs do COT .  

- As inúmeras e ridículas trocas de tiros entre PF e bandido.  Em cada confronto  acontece um festival de tiroteios. Até em hospital!  É mole?  Detalhe: isso é  exatamente o contrário da realidade.  A maior parte do trabalho da PF é de inteligência, não ostensivo. Raramente um PF trabalhando mostra que é PF.  Só ao final de meses de investigação é que acontece o confronto com os bandidos. Os bandidos, por sua vez, raramente  reagem. Primeiro porque  quase sempre já estão cercados. Segundo porque a maioria está mais  preocupada em como contornar tudo com dinheiro. Apagar policiais só complicaria as coisas. Por exemplo: você consegue imaginar o Maluf, sendo preso, dando tiro em Policial Federal?

- No filme vemos um agente do DEA (norte americano) discutindo com um Delegado Federal e admitindo que é corrupto mesmo, e daí? Cara, isso dá até vontade de rir! 

 A impressão que dá é que ouviram conversinha de corredor sobre a atuação do DEA  com a PF  e resolveram colocar isso no filme só para fazer charme. Ficou hilário.

-  Ainda sobre o agente do DEA: ele parece bicheiro de subúrbio carioca. Não conseguiram nem colocar um gringo verossímil na história.

Ah chega, vou parando por aqui.

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Tropa de Elite 2

domingo, 7 de novembro de 2010

Não importa de qual lado você está: vai se lascar do mesmo jeito. Assim percebi Tropa de Elite 2,  o filme  mais triste do mundo.

É violento? É, claro, mas a maior violência do filme é gritar na nossa cara o tempo todo que aquilo não é ficção. E não é mesmo.

Difícil não ser obvia, então pra quê tentar? Sim, é um FILMAÇO.

A história dessa vez não é exatamente sobre a polícia. É sobre o sistema - o nosso sistema brasileiro, que é um Satanás enooorme, mudo mas ativo.

"O Sistema" não é uma coisa simples de explicar. Está em todo lugar, tem vida própria, não mostra a cara, ninguém controla. É um monstro.  As vezes pensamos que determinadas pessoas o controlam mas é mero engano. Ninguém o controla. Quando muito o adoram, tirando proveito dele e alimentando-o. Quando seus falsos controladores são eliminados, percebemos que o Sistema subsiste muito bem sem eles. Ninguém lhe faz falta. Parece ter vida própria. Quem inventou algo tão maligno? Não sei. Mas sei que os que se aproveitam dele e mamam em suas tetas tornam-se igualmente nefastos.

Lute contra o sistema e você será destruído. Alimente-o e pouco depois será destruído também porque ele não tem protegidos.

O filme é maravilhoso no que tem de filosófico. A coisa é tão complicada que no final das contas a gente acaba indeciso: somos todos vítimas ou somos todos algozes uns dos outros? Quem é bom não consegue bancar essa bondade o tempo todo. Capitão Nascimento não sabe se errou ou acertou, se é bom ou mal. Ninguém sabe nada, essa é que é a verdade. Ele tem um bom coração, mas até que ponto esse bom coração é bom mesmo, é útil e toma as decisões certas?

Quem de nós conseguiria ser melhor do que o Capitão Nascimento? Quem o aconselharia? O que você diria a ele? Quem o condenaria?

Esse filme resgata isso na sociedade: o respeito na hora de criticar a polícia. Há forças terríveis que transformam todo o bem que queremos fazer em mal. A política manda, o povo obedece, ninguém exerga exatamente seu lugar na engrenagem nem sabe exatamente o resultado dos seus atos. É tudo uma latrina. Vivemos numa latrina.

Estou complicando tudo, eu sei... Estranho não conseguir escrever um bom texto comentando um filme tão bom!

Continuando com meu mau texto: quase choro nas primeiras cenas, na penitenciária. Eu, que sempre estive mais para Capitão Nascimento do que para Direitos Humanos, fiquei chocada ao me ver no meio daquela cena: homens-bicho afundados no inferno. Violência, medo, sangue, tensão, infelicidade total, a mais absoluta desesperança. Bandido tem medo, muito medo.

Cristina, o que você faria se tivesse escorregado aos poucos para o mundo do crime? Se se visse lá, sem chance de voltar, o que faria com uma arma na mão e um monte de inimigos querendo te matar?  Talvez eu faria o que aqueles bandidos fizeram. Como mudar isso?

É fácil matar um bandido quando não olhamos em seus olhos, mas no cinema, naquela telona, a gente vê os olhos, o suor, o medo, a necessidade que sentem de se proteger sendo assustadores.  Sim, eles tem muito, muito medo. Eles tem pavor e para sobreviverem só se mostrando piores do que seus inimigos. Tentam se proteger do medo fazendo medo. Como qualquer fera que ruge.  Senti dó como nunca antes. Dó daqueles homens desgraçados e sem futuro, sujos, morrendo como cães, como nada. Chorei por dentro e me perguntei: que mundo é esse? Que poço de lama é esse? Como que alguém se mete numa merda dessa?

Interessante ver o Seu Jorge, cantor, fazendo papel de bandido assustador. Significativo. Acho que foi colocado ali bem à propósito. Se ele não tivesse uma profissão, se não tivesse tido a oportunidade de ser um homem de bem, qual a diferença entre ele e qualquer bandido lá dentro? Nenhuma. Por outro lado, qualquer bandido ali poderia ter sido um Seu Jorge de voz aveludada e olhar sensual se tivesse chance.

Balancei.

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