"De maneira mais genérica, uma criatura onisciente nunca perderia seu tempo vendo um filme, uma vez que já conhece o final. Não existe cinema para Deus. E, por conseguinte, ele, que não obstante sabe tudo, não sabe o que está perdendo..."

Ollivier Pourriol, no livro Cine Filô.

Comentários da Cristina Faraon

Blá...blá... blá...

O primeiro ano do resto de nossas vidas

sábado, 13 de julho de 2013



"Revi dias atrás, em Blu-ray, O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (1985). Para a geração que tinha 20 e poucos anos na década de 80 (o meu caso), este filme foi um marco...(Leia o resto)" 

É um cult da década de 80 (1985) que jamais me esqueci. Sim, só agora, olhando na internet, é que descobri que se tornou cult.   Detalhe: com certeza a série Friends foi totalmente inspirada nele.

No início parece se desenhar como um daqueles filminhos românticos tipo "Seção da Tarde", para adolescentes. Mas não: é um filme sobre entrar na vida adulta, sobre nossos primeiros sofrimentos e decisões e sobre aquelas pessoas que passam pela nossa existência e deixam um rastro profundo e sagrado, marcam para sempre e jamais são esquecidas. Essas pessoas, mesmo sem querer, mudam nosso rumo para o futuro mas jamais farão parte dele.

Como eu disse, até a metade parece coisa de adolescente e é aí que a maioria dos adultos resolve desligar o DVD e partir para outra.  Do meio para o fim, entretanto, é que a gente vê os destinos de cada um desabrochando. Percebemos como a vida exige de nós uma resposta, exige que tomemos posição e que cresçamos. Há um momento em que fica impossível adiar ou fugir das mudanças. Isso é angustiante sim, mas a absorção desse fato é a essência do que chamamos de "maturidade".

Essa história nos fala dessa dor de nos despedirmos de um tipo de vida que não nos cabe mais,  mas queríamos tanto perpetuar! É quando descobrimos como é tolo acreditarmos em destinos traçados e casais perfeitos. NADA é obvio, por isso insistimos em viver: porque a vida é instigante. Não conseguimos enxergar nada de longe, não sabemos quem vai se dar bem nem quem vai se dar mal  ou quem é o amigo "safo"  que vai se dar bem ou o tolo,  que jogará tudo fora. Uma carinha bonita ou um pai rico não salvam ninguém, e o amor mais sólido e duradouro talvez não seja aquele que vai com a gente para a cama.

O mais tocante pra mim foram os momentos de descoberta de cada personagem. Por exemplo:

- O momento em que aquela linda médica, que se sentia tão adulta e invulnerável, se assusta consigo mesma ao descobrir que é apenas uma mulher e não está assim tão protegida contra as deliciosas tolices de um amor juvenil, irresponsável e arrebatador. Ela descobriu uma coisa nova: o poder renovador de uma paixão.  E o momento em que o rapaz, terrivelmente apaixonado por ela, finalmente lhe dá um beijo, se liberta daquela febre e se percebe um homem livre, auto confiante e apto para encarar a vida.

- Quando a moça feia tem seu momento inesquecível com o amor da sua vida: o rapaz mais lindo e irresistível que conheceu. O que tinha tudo para ser só mais uma travessura do gostosão acabou se tornando a cena mais terna do filme.  Vimos ali uma amizade, um amor autêntico, sincero e cheio de respeito, como ele jamais experimentara até então. Achei lindo ver um playboy "rodado" descobrir que o sexo era muito mais do que ele já havia experimentado. Aquela era, na verdade, a primeira mulher e o primeiro sexo adulto da sua vida. Ambos cresceram, se transformaram. Ele conseguiu se libertar da ditadura da beleza e enxergar pela primeira vez a alma de uma pessoa. Ele entendeu, enfim, que existem coisas sagradas nessa vida, pessoas especiais. E ela, por sua vez, entendeu que não precisava ter aquele homem para si, embora até quisesse. A vida as vezes não nos dá a riqueza que queremos, mas nos dá uma pequena pérola de grande valor que guardaremos para sempre. Já vale demais.  Sua primeira vez foi a melhor primeira vez que uma mulher pode ter. De tudo, restou o profundo respeito mútuo,  a ternura verdadeira e um momento que valia guardar no coração.  Ela pôde então se libertar da angustia daquele amor e seguir em frente, adulta, livre, em paz e  plena,  levando consigo uma relíquia e uma saudade.

Todos temos nossas dores eternas. Ser adulto é saber conviver com isso sem culpar a ninguém.



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