"De maneira mais genérica, uma criatura onisciente nunca perderia seu tempo vendo um filme, uma vez que já conhece o final. Não existe cinema para Deus. E, por conseguinte, ele, que não obstante sabe tudo, não sabe o que está perdendo..."

Ollivier Pourriol, no livro Cine Filô.

Comentários da Cristina Faraon

Blá...blá... blá...

A Rede Social

sábado, 29 de janeiro de 2011


Muito bom! Claro que nas primeiras cenas levei medo. Pensei logo: "Lá vem um daqueles filmes metralhando diálogos com informações incompreensíveis na velocidade da luz. Não vou entender nada."


Calma, as primeiras cenas são só pra impressionar. Na verdade a gente entende o filme sim, e ele é ótimo.


O personagem principal dá o que pensar.  Mark Zuckerberg é esquisitão e inteligentíssimo. Normal. Todo inteligentíssimo é esquisitão. E  não é muito simpático. Detalhe: a gente acaba gostando dele. Como? Aí é que está.


Mark é brilhante, inventivo, jovem, fala o que dá na cabeça, é ambicioso, convencido e não resiste a uma oportunidade de crescer, mesmo que isso lhe custe as mais caras amizades. Ele simplesmente não resiste! É como se uma força superior o puxasse para cima e ele tivesse que cumprir seu "doloroso" carma. Era para odiarmos Mark. Porque isso não acontece?  Porque mesmo assim ele é tudo o que queríamos ser. 


Uma pessoa de bom coração morreria de raiva dele. Mas ele é muito inteligente e está ficando milionário. Como ter raiva de alguém assim? Se ao assistir o filme você sentir o mesmo, bem-vindo ao clube. Você não é uma pessoa tão boa assim e é igualzinho à sociedade que costuma criticar.  


A história é baseada em fatos reais e Mark é o criador do Facebook. Custa caro ficar rico e isso é mais uma coisa para a gente pensar. Você pagaria o preço?


Em alguns momentos a história parece estar mais para drama psicológico. Para mim foi um drama psicológico. Dá pra entender um pouco da dor de todo mundo. Ser um gênio que enriquece  pode levar a pessoa a um deplorável estado de solidão.  Mark nos dá inveja, raiva e pena. Mistura improvável de sentimentos, mas isso existe. Experimente. 


Sabe outra coisa dolorosa? É descobrir que não há remédio para a mediocridade. Gênios já nascem prontos e se você não nasceu assim, não há nada que se possa fazer a respeito. Sorry, periferia! 


É evidente que o mundo dos gênios não é o mesmo do das pessoas comuns e se um gênio convive com alguém comum, em algum momento os caminhos irão se distanciar inexoravelmente. Sim, a história é uma overdose de vida cruel. 


Dói o coração ver o amigo de Mark ficar para trás mas a gente percebe que ele simplesmente não consegue alcançá-lo por melhor que seja como pessoa. Naquela loucura toda não há lugar para ele, ainda que ele seja honesto, bom, trabalhador e inteligente. Medianamente inteligente. É verdade: ser bonzinho não leva ninguém à glória do mundo nem faz com que o mercado lhe olhe com condescendência. Isso aqui é uma selva e não dá tempo pra pensar demais nem pesar questões morais. A história nao defende, de modo algum, a canalhice. Apenas mostra como as coisas são. 


A gente pensa o tempo todo: "Vale a pena?"


Li uma critica que dizia, brilhantemente, que "No fim das contas, embora o Facebook trate de conectividade, David Fincher está fazendo um filme sobre a dissonância. É como o ruído que persiste na trilha de Reznor, literal e metaforicamente."   É isso aí.


Fora a pena imensa que sentimos do sócio de Mark, ainda temos que sofrer também com um dó descomunal de ver ver dois irmãos gêmeos belíssimos, educadíssimos, finos, sarados, bons e inteligentes sofrerem horrores ao serem humilhados o tempo todo pelo QI e pela fraqueza moral de Mark.   Caramba!


Como eu já disse, é mesmo um drama psicológico. 


Essas foram as minhas impressões. Você provavelmente, terá outras. Pra mim, valeu.

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