"De maneira mais genérica, uma criatura onisciente nunca perderia seu tempo vendo um filme, uma vez que já conhece o final. Não existe cinema para Deus. E, por conseguinte, ele, que não obstante sabe tudo, não sabe o que está perdendo..."

Ollivier Pourriol, no livro Cine Filô.

Comentários da Cristina Faraon

Blá...blá... blá...

O leitor

domingo, 5 de abril de 2009


Lindo. Mesmo.

Lindo como romance, interessantíssimo como discussão da moralidade, bondade, bem, mal, justiça e capacidade de julgamento.

Não tenho muita paciência para fazer sinopses. Lá vai uma, colada do site Adoro Cinema:

"Um adolescente se apaixona por uma mulher mais velha e vive intenso romance. De uma hora para outra, ela some de sua vida. Cerca de oito anos depois, ele reencontra essa parte de seu passado ao participar de um polêmico julgamento de crimes cometidos pelos nazistas na segunda grande guerra. Dirigido por Stephen Daldry (As Horas) e com Ralph Fiennes, Kate Winslet e Bruno Ganz no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz. "

Pois é, um rapazinho e uma mulher mais velha se conhecem e tornam-se amantes. Até aí somos brindados com momentos de pura poesia. Gosto de beleza pura e chorei quando o casal conseguiu dar uma fugida de bicicleta por um lugarejo próximo e ambos se flagraram em absoluta e perfeita felicidade.

A felicidade completa é pesada e dói. Faz chorar (a mim) como naquele momento no qual Hanna entra em uma pequena igreja e ouve um coral de crianças. Era tão obvio que ela jamais estivera feliz daquele jeito que a cena comove sobremaneira. Ela chora, oprimida por tanta beleza, por não saber o que dizer naquele momento perfeito e certamente breve. Eu chorei com ela. O filme é lindíssimo sob todos os ângulos e tem a vocação de ser inesquecível.

A história não pára no romance mas segue e entra na inquietante discussão moral. Quem é Hanna? Quem são os nazistas? Quem somos nós, realmente? Somos mesmo tão bonzinhos quanto pensamos que somos? Somente as pessoas cruéis praticam crueldade ou contextos malignos são capazes de encurralar pessoas comuns de tal forma que elas não encontram outra saída? É possível que nos encontremos um dia dentro de uma engrenagem assim? E se isso acontecer, como nos comportaremos? Pagaríamos o preço de agir melhor?

O filme não nos responde o que se passa pela cabeça de alguém que matou centenas de pessoas durante o regime nazista. Isso nos incomoda porque a gente quer o tempo todo que a personagem nos diga algo. Isso não acontece e é o que a história tem de mais realista e provocador.
Fica claro que nem mesmo os próprios assassinos tem as respostas. Em muitos casos eles não sabem responder a si mesmos!

Sem sabermos onde acaba a maldade e começa o medo, qual a fronteira entre a obediência apavorada e a maldade explícita, sem acesso ao único arquivo que nos capacitaria a fazer justiça - a alma humana - nós ficamos totalmente desarmados.

Saí impactada com uma idéia de que é impossível fazermos justiça. Isso não está ao alcance dos humanos. Deveríamos nos convencer disso de uma vez por todas e deixar de lado os discursos hipócritas. Assumamos a vingança como única atitude contra a impunidade.
Impossível dizermos com sinceridade absoluta que, enstando no lugar de tal pessoa, não agiríamos exatamente da mesma forma que ela. Se centenas e centenas temeram e não resistiram à pressão do momento, será que eu estou mesmo acima de todas elas? Quem sou eu para fazer tal afirmação? Será que aquele juiz está mesmo moralmente tão acima do réu? Pelo amor de Deus, não será tudo um circo? Os que julgam e gritam "assassino!" sabem mesmo o que estão dizendo? Enxergam-se?

O filme não inocenta ninguém. Realmente não o faz. Ao contrário, empareda a todos e diz que a justiça não está ao nosso alcance, só a horrorosa vingança, que tanto desprezamos.

Repare! Olhe ao seu redor. Por mais que nos esforcemos em fazer justiça tudo o que conseguimos não é, no final das contas, a mais sórdida das vinganças?

0 comentários:

  © Free Blogger Templates Columnus by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP